A sindicalista brasileira, defensora dos direitos humanos e trabalhistas dos trabalhadores do campo, Margarida Maria Alves nasceu em 5 de agosto de 1933 na Comunidade de Jacu no Município de Alagoa Grande, localizado na Região Geográfica Imediata de Campina Grande-PB. Tornou-se Presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, em 1973, aos 40 anos.
Foi uma das primeiras mulheres a exercer um cargo de direção sindical no Brasil.
Seu nome e sua história de luta inspiraram a Marcha das Margaridas, que foi criada em 2000, uma manifestação de mulheres trabalhadoras rurais de todo o Brasil, em prol de direitos sociais e contra a violência contra as mulheres do campo e da floresta.
A Marcha é organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e outras entidades que realizam em Brasília a Marcha, levando reivindicações e propostas das mulheres do campo.
A Marcha das Margaridas tem sido um caminho coletivo de construção de um projeto de sociedade que propõe um Brasil sem violência, onde a democracia e a soberania popular sejam respeitadas, a partir de relações justas e igualitárias.
Sua atuação contrariou os interesses do proprietário da maior usina de açúcar local, bem como de senhores de engenho e de fazendeiros da região.
Durante sua gestão, moveu mais de 600 ações trabalhistas, e foi uma das vozes mais atuantes na denúncia ao desrespeito às leis trabalhistas e às condições precárias de trabalho nas usinas de cana-de-açúcar da região. Em função de sua luta por direitos, não tardou para que começassem as intimidações à atuação combativa de Margarida. Os próprios trabalhadores contavam para a líder sindical sobre as ameaças que ouviam de seus patrões e feitores. Todavia, a sindicalista resistia.
Em plena ditadura militar, Margarida Alves não se acovardou, com as ameaças de latifundiários e governantes autoritários, e seguiu atuando contra a ausência total de direitos trabalhistas, as longas jornadas, as baixas remunerações e o trabalho infantil nos canaviais. Margarida Alves igualmente foi uma das fundadoras do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, inspirador no educador e patrono da Educação brasileira, Paulo Freire, e deixou um forte legado na luta coletiva.
"É melhor morrer na luta do que morrer de fome", declarou Margarida Alves durante as comemorações do 1º de Maio de 1983, apenas três meses antes de ser assassinada a mando de latifundiários da região na porta de sua casa. Sua morte, em 12 de agosto do mesmo ano, ressoou no movimento sindical e entre as organizações de mulheres da Paraíba, que passaram a exigir justiça, bem como a propagar suas ideias, que acabou se tornando uma referência para o sindicalismo e para o feminismo brasileiro.
A sindicalista Margarida Maria Alves foi assassinada no dia 12 de agosto de 1983, na época com 50 anos, com um tiro de espingarda calibre 12, no rosto, na frente de sua casa, em Alagoa Grande, Paraíba (PB). A militante já vinha recebendo uma série de ameaças de morte por telefonemas e cartas, mas, foi naquela tarde de agosto que Margarida foi alvejada no rosto ao atender a porta – enquanto seu marido a acompanhava e seu filho de 8 anos brincava na calçada – que as ameaças realmente se concretizaram.
Margarida atendeu a porta e o homem perguntou "é a Dona Margarida?", e ela respondeu "sou", segundos antes de levar o tiro disparado por um matador de aluguel. Postumamente, recebeu o Prêmio Pax Christi Internacional em 1988. A Pax Christi International faz questão de homenagear homens e mulheres que lutam pela paz, pela justiça e pela não violência em diferentes partes do mundo.
Uma casa de fachada simples, com uma porta e duas janelas, daquelas típicas de cidades do interior, chama a atenção em Alagoa Grande, município da região do brejo da Paraíba, perto de Campina Grande. Uma placa fixada na parede externa informa o que aconteceu há exatos 40 anos: “Aqui foi assassinada em 12 de agosto de 1983 a líder sindical Margarida Maria Alves”. Na parte de cima, o letreiro tem o nome da dona da casa e a frase que a eternizou: “É melhor morrer na luta do que morrer de fome”.
Em 16 de agosto de 2023, seu nome foi inserido no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Abrigado no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, o livro reúne o nome de pessoas que dedicaram suas vidas às lutas por um país melhor,
como Abdias do Nascimento, Dandara dos Palmares, Zilda Arns, Euclides da Cunha, sindicalista João Pedro Teixeira, Tiradentes, Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, Zumbi dos Palmares, Miguel Arraes, Chico Mendes, Ruy Barbosa, Nise da Silveira, Ulysses Guimarães, Zuzu Angel, Ana Nery, Anita Garibaldi, Chico Xavier, Frei Caneca, Dragão do Mar, Antônio Conselheiro, padre Cícero Romão Batista, entre outros.
Herói ou heroína da pátria é um título dado a personalidades que tiveram papel fundamental na defesa ou na construção do país. O nome é registrado no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria — ou Livro de Aço, pois a obra de fato é formada por páginas de aço — abrigado no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
A inclusão de Maria Margarida Alves foi proposta pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) na Câmara dos Deputados e relatado pelo senador Paulo Paim (PT-RS).
A Lei Nº 14.649, de 16 de agosto de 2023 no seu artigo 1º estabelece: “Fica inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília, o nome de Margarida Alves, heroína das ligas camponesas e dos trabalhadores rurais do Brasil”. A Lei foi sancionada pelo presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A líder sindical Margarida Maria Alves foi responsável pela judicialização de vários desrespeitos cometidos pelos grandes proprietários de terras contra os trabalhadores. A liderança camponesa se transformou em símbolo de resistência e luta contra a violência no campo, pela reforma agrária e fim da exploração dos trabalhadores rurais. Até hoje, 41 anos depois, nenhum dos acusados pela morte da sindicalista foi condenado, mas seu legado permanece vivo.
Margarida Alves segue inspirando a luta pelos direitos trabalhistas e pela dignidade de mulheres e homens do campo. A liderança camponesa Margarida Alves é símbolo de força, fé, de garra, de determinação, de coragem, de bravura, de luta e é espelho de resistência para milhares de homens e mulheres que buscam justiça social, dignidade e uma sociedade livre, justa e solidária.
Abdias Duque de Abrantes
Advogado, jornalista, servidor público, graduado em Jornalismo e Direito pela UFPB e pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Potiguar (UnP), que integra a Laureate International Universities.
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