O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenta articular um acordo no PSDB para lançar o senador Tasso Jereissati (CE) à Presidência da República em outubro do ano que vem.
No entanto, há um senão político: a divisão partidária dificulta um entendimento entre os quatro pré-candidatos e estimula a realização de prévias. Também existe um obstáculo pessoal, a oposição da família de Tasso a uma campanha que seria desgastante para a saúde do senador. Apesar disso, FHC acredita que Tasso seria a melhor opção para o partido em 2022 pelas seguintes razões.
Durante anos, o ex-presidente enfraqueceu o PSDB ao investir no projeto presidencial do apresentador de TV Luciano Huck, ideia que se revelou o que sempre foi: uma aventura. Huck parece mais interessado em tomar o lugar de Fausto Silva aos domingos na TV Globo do que em se arriscar numa eleição. Daí se mede a sua consistência política.
Huck se assustou com a volta de Lula ao jogo eleitoral devido à decisão do ministro do STF Edson Fachin que restabeleceu os direitos eleitorais do petista. A reviravolta enfraqueceu a aposta na antipolítica feita por FHC ao incensar Huck.
FHC acredita que Tasso possa ser um candidato que reposicione o PSDB mais ao centro na política brasileira, afastando o partido do caminho de direita que trilhou nos últimos anos.
Para o ex-presidente, o governador de São Paulo, João Doria, terá dificuldade para viabilizar a sua candidatura ao Palácio do Planalto. Doria sofre os desgastes do embate com Bolsonaro por causa das medidas restritivas, como quarentena e fechamento parcial do comércio.
Apesar de ter sido responsável por trazer a CoronaVac ao Brasil, imunizante que pressionou Bolsonaro a sair do discurso antivacina, o tucano enfrenta dificuldades até para eventual reeleição.
Na visão de FHC, seria mais importante Doria concorrer novamente ao Palácio dos Bandeirantes para tentar segurar a base política mais importante do tucanato. Os tucanos governam o estado de São Paulo há 26 anos.
Outro presidenciável tucano, o governador Eduardo Leite (RS), também deveria se concentrar na tentativa de reeleição. Seria mais importante para os planos de médio e longo prazo do PSDB manter dois governos importantes, acredita FHC
O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio é mais um que se coloca como opção do PSDB para concorrer à Presidência, mas FHC avalia que Tasso teria um perfil mais nacional e menos beligerante. Seria ideal para uma campanha polarizada entre Bolsonaro e Lula.
Em decisão recente, a Executiva Nacional do PSDB montou um modelo de prévias que dá mais poderes aos caciques partidários do que à base do partido, contrariando desejo de Doria. Esse modelo reforça a intenção de buscar uma candidatura por acordo. Tasso seria o nome com mais capacidade de unir Doria, Leite e Virgílio.
As prévias do PSDB estão previstas para novembro, mas há debate sobre um eventual adiamento.
Segundo turno
O recente encontro entre FHC e Lula revela que o tucano está mais propenso a voltar a valorizar a classe política, num movimento diferente dos últimos anos nos quais flertou com a Lava Jato e Huck.
Com uma participação importante na CPI da Pandemia, o senador Tasso Jereissati obteve uma vitrine importante. Moderado, Tasso poderia ser um candidato de união do partido e defensor de um programa de centro, pensa FHC. Tasso se opôs aos governos Temer e Bolsonaro, o que lhe dá credenciais oposicionistas melhores do que Doria e Leite, que ficaram com Bolsonaro no segundo turno de 2018 e se afastaram do presidente somente na pandemia.
Em 1993, um ano antes de FHC viabilizar sua candidatura à Presidência, houve conversas para lançar uma chapa Lula-Tasso. Hoje, essa aliança é praticamente impossível, mas um apoio tucano a Lula no segundo turno foi defendido abertamente por FHC. O petista também disse que votaria no tucano contra o atual presidente.
A oposição a Bolsonaro reaproximou Lula e FHC. Além do encontro no início de maio, os dois assinaram na semana passada uma nota conjunta contra propostas do ministro Paulo Guedes para o Mercosul. Foi mais um sinal de que, num segundo turno, seria possível ver Lula eFHC no mesmo palanque eleitoral, algo inédito desde 1978. Na ditadura militar, o petista apoiou o tucano, que concorreu na época ao Senado pelo MDB.
Fonte: O Otimista
Créditos: O Otimista