O Brasil registrou, em fevereiro, 30.484 mortes pela Covid-19, segundo dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde do país. Mesmo com dias a menos e últimos dias durante um fim de semana – o que afeta os registros das mortes –, fevereiro teve o segundo número mais alto de mortes desde o início da pandemia, e o maior desde julho.
Fevereiro também foi o terceiro mês consecutivo em que as mortes de um mês superam as do mês anterior:
Mortes por Covid-19 por mês no Brasil
Mês
00
202202
5.8045.804
23.33523.335
30.31530.315
32.91232.912
28.94728.947
22.37122.371
16.01616.016
13.26313.263
21.81121.811
29.55829.558
30.48430.484
Mortes
Fev/20
Mar/20
Abr/20
Maio/20
Jun/20
Jul/20
Ago/20
Set/20
Out/20
Nov/20
Dez/20
Jan/21
Fev/21
0
10k
20k
30k
40k
Fonte: Secretarias de Saúde/Consórcio de veículos de imprensa/Levantamentos exclusivos G1
Três estados tiveram recordes de mortes: Minas Gerais e Rondônia, pelo segundo mês consecutivo, e Roraima, que ultrapassou os registros de mortes vistos em julho. O colapso no sistema de saúde, antes restrito ao Amazonas, agora atinge várias partes do país (veja detalhes mais abaixo).
As médias móveis diárias calculadas pelo consórcio de imprensa estão acima de mil mortes por dia há 39 dias. No dia 25, o Brasil registrou o recorde de mortes em 24h desde o início da pandemia: 1.582 pessoas morreram.
O dado referente às mortes de fevereiro foi calculado subtraindo-se as mortes totais até janeiro (224.534) do total de mortes até 28 de fevereiro (255.018). Os números dos meses anteriores foram determinados com a mesma metodologia (veja mais ao final da reportagem).
'Voo cego' com variantes
Pessoas usando roupas e equipamentos de proteção contra o coronavírus Sars-CoV-2 andam em meio a túmulos de vítimas da Covid-19 no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, no dia 25 de fevereiro. — Foto: Michael Dantas/AFP
Pessoas usando roupas e equipamentos de proteção contra o coronavírus Sars-CoV-2 andam em meio a túmulos de vítimas da Covid-19 no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, no dia 25 de fevereiro. — Foto: Michael Dantas/AFP
O epidemiologista Airton Stein, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), explica que a pandemia da Covid, no mundo inteiro, é como uma montanha-russa.
"Essa pandemia no mundo todo se caracteriza como uma montanha-russa – no sentido científico. Num momento parece que a gente está chegando no final – no ano passado, com as vacinas, parecia que iríamos estar próximos de uma solução. E aí, logo a seguir, vieram as variantes", lembra.
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"Certamente está tendo um vírus que é mais transmissível, o que faz parte da história evolutiva de todos os vírus, então isso também não é uma coisa nova. A gente sabe que o vírus tem mutação, mas não está controlando essas novas variantes. Não tem, em todo o país, um número adequado de vigilância genômica. A gente está fazendo um voo cego", afirma Stein.
"Os indicadores são muito claros. Quanto mais transmissível, maior risco de ter um maior número de casos graves – por isso que está aumentando tanto a ocupação de leitos de UTI. Essa pandemia pegou o Brasil de calças na mão, despreparado. Houve um desinvestimento na saúde pública, na ciência, muita desinformação – dificuldade de passar uma informação coesa para a população", avalia o professor da UFCSPA.
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"É uma situação muito complexa, mas isso ficou mais exposto nos países onde tem falta de estrutura de bem-estar social – não apenas sistema de saúde, mas de apoio para aquelas populações vulneráveis e, principalmente, com um número muito grande de vulneráveis. Tanto que a gente está vendo que a epidemia causou um dano muito grande em países ricos como os EUA, onde tem muita iniquidade. A epidemia deixou mais em evidência essa interação social com a saúde. As pessoas estão mais expostas a circularem por terem trabalhos em que precisam circular e, também, por não terem acesso a serviços de saúde adequados. Esse é o cenário geral", afirma Airton Stein.
Colapso nos estados
Drauzio Varella: ‘Olha no que deu fazer aglomerações nos bares, festas clandestinas e carnaval'
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Vários estados viram o colapso de seus sistemas de saúde, tanto público quanto privado. Esse cenário já havia sido previsto por especialistas em janeiro, quando acabou o oxigênio de hospitais de Manaus e pacientes morreram asfixiados.
A avaliação de médicos, epidemiologistas e outros cientistas era de que o colapso visto no Amazonas se repetiria no resto do país por diversos motivos: as festividades de fim de ano, a variante mais contagiosa e a baixa adesão às medidas restritivas.
Ao G1, alguns afirmaram que a situação ainda pode piorar em março, por causa das aglomerações e viagens de Carnaval – cujos reflexos devem ser sentidos de forma mais intensa em meados do mês.
Veja, abaixo, a situação de alguns estados em fevereiro:
Rio Grande do Sul
Equipe do Hospital de Clínicas de Porto Alegre faz manobra de prona em paciente
Equipe do Hospital de Clínicas de Porto Alegre faz manobra de prona em paciente
O governo decretou bandeira preta para todo o estado na sexta-feira (26). No dia seguinte, os hospitais de Porto Alegre ultrapassaram 100% de ocupação pela primeira vez desde o início da pandemia. A Secretaria Estadual de Saúde recomendou a suspensão de cirurgias eletivas até 31 de março.
"A capacidade instalada de leitos de terapia intensiva em Porto Alegre está esgotada", afirma Nadine Clausell, diretora do Hospital de Clínicas da cidade (HCPA), referência para atendimento a pacientes com Covid.
"A gente passa o dia inteiro recebendo pacientes não só da região metropolitana, mas também do estado, especialmente do litoral. Acaba tudo vindo para Porto Alegre, os hospitais aqui esgotados. É uma expansão de uma rede que já está esgotada e que caminha para a precariedade e às custas de reduzir a capacidade instalada para atender os pacientes que não são Covid", lembra.
Fonte: G1