Um dos maiores acontecimento da história política do país, completa 90 anos neste domingo (26). A data inspira a revisão do significado do episódio, um caso de vingança pessoal, mas que, tratado como crime político, se deu em meio à “Guerra de Princesa” e que serviu de estopim para a “Revolução de 30”, e ajudou a levar Getúlio Vargas ao poder.
Lembrado por muitos nesta data, João Pessoa recebe diversas homenagens, e entre elas estão fotos em sua memória, que foram divulgadas, hoje, pelo ex-deputado estadual paraibano Ramalho Leite.
Confira fotos:
Nesta mesa a seguir, o presidente João Pessoa foi morto há 90 anos, na Cafeteria Glória, no Recife. Hoje, a mesa está no acervo do Instituto Histórico, que dispõe de outros arquivos sobre o acontecimento que se eternizou testemunhado através do luto presente na bandeira da Paraíba.
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Acontecimento histórico
Embrião de um dos mitos da história brasileira, o assassinato do governador da Paraíba (na época o cargo se chamava presidente do estado) e candidato derrotado à vice-presidência João Pessoa (1878-1930) completa 90 anos neste domingo (26).
O crime foi o estopim da Revolução de 1930 –a chapa presidencial de Getúlio Vargas e João Pessoa havia sido derrotada em março daquele ano pelo paulista Júlio Prestes, apoiado pelo presidente Washington Luís.
Também levou à derrota da última insurreição armada da República Velha, a Revolta de Princesa. Esse foi o nome dado ao levante contra Pessoa comandado pelo coronel José Pereira Lima no município de Princesa, atual Princesa Isabel (PB), distante 400 quilômetros da capital, João Pessoa.
A revolta foi o ápice do conflito político entre Pessoa e coronéis do interior. Princesa chegou a ser proclamada “território livre”, e a semiguerra civil colocou frente a frente, de fevereiro a julho, cerca de 2.000 jagunços reunidos por Pereira e 850 soldados da polícia estadual.
Pessoa foi morto com dois tiros no peito no dia 26 de julho de 1930, no Recife. O crime não teve motivação política, e sim vingança. O assassino, João Dantas, aliado a inimigos de Pessoa, teve a casa invadida quatro dias antes pela polícia, que buscava armas.
Os agentes não encontraram armamento, mas puseram as mãos em farta correspondência e fotos eróticas de Dantas e da amante, a professora e poeta Anayde Beiriz. Exposto ao público, o material causou escândalo, levando Beiriz ao suicídio.
“O assassinato de João Pessoa e todo o processo de investimento na construção de uma memória mitificada em torno dele legitimou ideologicamente um fato histórico que marcou o fim da chamada República Velha e o início da Era Vargas”, afirma José Luciano Queiroz Aires, historiador e professor do curso de mestrado em história da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Ele contabilizou, em 2006, um total de 13 avenidas, 26 ruas, quatro travessas, um largo e duas praças batizados em homenagem a João Pessoa em 18 capitais.
O Exército só sufocaria a revolta de Princesa depois da morte de Pessoa, mas já era tarde. O resto está nos livros didáticos: um golpe, encabeçado por Getúlio Vargas, depôs Washington Luís, acusado pela morte de Pessoa, em outubro, na chamada Revolução de 1930.
“O termo ‘revolução’ justifica-se porque ocorreu uma reconstrução do Estado nacional. E também existiu apelo popular, como mostra a morte de João Pessoa. Havia um grupo que realmente estava querendo um Brasil diferente, que não ficasse dominado por São Paulo e Minas”, afirma a historiadora Dulce Pandolfi, co-organizadora de “A República no Brasil” (2002).
Pessoa teve o corpo embalsamado e foi sepultado com honras no Rio de Janeiro. Em setembro daquele ano, os deputados paraibanos aprovaram a mudança do nome da capital, então Paraíba do Norte, para João Pessoa.
Foi composto um hino em homenagem ao ex-governador, e seu nome foi dado a dezenas de logradouros em todo o país. Em 1967, a Paraíba tornou o dia 26 de julho feriado estadual.
O movimento revisionista em torno da figura de Pessoa cresceu a partir dos últimos anos do regime militar. Em 1983, Tizuka Yamasaki realizou o multipremiado longa “Parahyba mulher macho” (1983), baseado em livro do historiador paraibano José Joffily sobre Anayde Beiriz. A intenção de filmar na capital da Paraíba foi abandonada em razão da hostilidade local. “Eu fazia perguntas a um coronel, e ele não conseguia me olhar para responder”, lembra Tizuka.
O cantor, compositor e ex-vereador de João Pessoa Flávio Eduardo Maroja Ribeiro tentou levantar o debate, mas enfrentou resistência. Em 2007, publicou o livro “Parahyba 1930: A Verdade Omitida”. “Levei muita chibatada nas costas. Hoje a gente está vendo os frutos dessa história.”
No rastro do livro de Fuba, surgiram movimentos como Paraíba Capital Parahyba e Bandeira Viva (que tenta restabelecer a antiga bandeira estadual em lugar da atual, rubro-negra, com a expressão “Nego”, atribuída a Pessoa). Em 2015, os deputados extinguiram o feriado de 26 de julho.
Fonte: Redação com Folha de Pernambuco
Créditos: Polêmica Paraíba