No momento em que as forças democráticas precisam se unir em torno de Fernando Haddad para barrar a ascensão do fascismo no Brasil, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda que a contragosto, indica a existência de uma possibilidade de diálogo. “Do meu ponto de vista pessoal, o Bolsonaro representa tudo que não gosto. Só ouvi a voz do Bolsonaro agora. Nunca tinha ouvido”, disse ele, em entrevista ao jornalista Pedro Venceslau. “É possível que a maioria dos líderes do PSDB seja pró-Bolsonaro, mas não é o meu caso.”
Aparentemente movido por orgulho, FHC ainda não se mostra disposto a apoiar Haddad, mesmo ciente de que negros, gays e opositores do bolsonarismo estão sendo agredidos nas ruas – e também de que a imprensa internacional está escandalizada com o neofascismo brasileiro. “Por que tem de automaticamente apoiar? É discutível. (O PT) Não faz autocrítica nenhuma. As coisas que eles dizem a respeito do meu governo não correspondem às coisas que acho que fiz. Por que tenho que, para evitar o mal maior, apoiar o PT? Acho que temos de evitar o mal maior defendendo democracia, direitos humanos, liberdade, contra o racismo o tempo todo”, afirma.
Para apoiar Haddad, FHC parece disposto a cobrar a adesão a seu programa. “Tenho relações pessoais e cordiais com o candidato Haddad, mas o que está em jogo é o que será feito com o Brasil. Minha preocupação não é comigo ou o PSDB, mas com o Brasil. Qual é a linha? Estão pensando que estamos nos anos 60 e 70 ou terá uma linha contemporânea?”, questiona. Ainda assim, ele afirma que há uma porta para dialogar com Haddad – ao contrário do que diz respeito a seu adversário. “O Bolsonaro pelas razões políticas está excluído. Um tem um muro, o outro uma porta. Figura por figura, eu me dou com Haddad. Nunca vi o Bolsonaro.”
Derrocada do PSDB
Em relação à implosão do PSDB e a briga entre João Doria e Geraldo Alckmin, FHC escolhe o lado do ex-governador que ele garante não ser traidor – o que Doria talvez seja. “Tenho certeza que Geraldo não é traidor. Não é do estilo dele. A eleição não está resolvida. O Doria ainda tem de disputar para saber qual será o grau de projeção dele. Não estou de acordo em apoiar o Bolsonaro. Não corresponde à minha história e ao meu sentimento.”
Brasil 247